domingo, 25 de março de 2012

Vivências - Supermercado I


1 - Supermercado I

Entro no supermercado e um homem de quase dois metros de altura está passando por mim. Eu encosto nele por acaso, com a cesta. Peço desculpas. Ele empomba e diz aos berros que eu devo saber quem ele é, pois já trabalhou na Globo. Um preto lindo. E louco. Berro com ele, supermercado cheio, Ipanema, fim de tarde, sol, domingo, todo o subúrbio lá dentro. Tudo bem. Aponto-lhe o dedo e digo: "Não tenho medo de macho e muito menos de louco. E tem mais: olha pro meu tamanho e vê se consegue alguma coisa". O louco é louco, mas não é burro e pensa, porque o fiz pensar, que sou maior que ele. Encolheu-se de medo. Mercado quieto, gerente sumido, todo mundo quieto, pois de repente as pessoas "normais" viram que estavam diante de dois loucos, não só um. O homem me segue nas compras e continuo a ameaçá-los aos berros que vou voar no pescoço dele. Ele se afasta. Faço minhas compras e me dirijo ao caixa dos velhos. Uma fila imensa de jovens. E um velho esperando, esperando, esperando... Enfim, o que eu chamo de brasileiro típico.

Berro para a senhora do caixa perguntando se aquela é a fila dos velhos dizendo: "A única coisa boa que consegui com a velhice é não entrar em filas longas de supermercado". A fila se escora toda na parede. Olho para o fim e grito: tem um aleijado aí? Não. Uma gestante? Não. Então vamos nós. A senhora do caixa diz baixinho: "a senhora pode passar". E tinha O BRASILEIRO na minha frente que estava mudo e quieto e se assustou quando eu mansamente lhe disse: "O senhor está aqui há mais tempo, pode passar". Ele saiu correndo, foi para o caixa, direto. Chega a minha vez. Peço desculpa à senhora do caixa (talvez 50 anos) e ela me pede desculpas por não ter tido coragem de mandar as pessoas embora. Digo-lhe que ela, se fizesse o que fiz, perderia o emprego. Ela consente e diz: "A senhora pensou no meu emprego?" "Claro, pensei nisto. Eu não quero prejudicar ninguém." "Muito obrigada", diz ela. E arruma com o maior carinho meus sacos de compras. Saí dando gargalhadas comigo mesma. E vou tomar um táxi. Aproxima-se um garoto que pensei ser de algum ponto de táxi e me diz: "A senhora quer um táxi?" Digo que sim. Ele levanta uma flanelinha e sai. Berro: "Pode parar que eu não sou aleijada! "Tenho horror de flanelinha”. Tenho que andar várias quadras da rua para poder parar de rir com todos estes acontecimentos. Diverti-me à beça. Adoro supermercados e o medo que as pessoas têm dos loucos.

Moral da história: a loucura na possibilidade de nosso entendimento pode ser muito engraçada. Só não o é por falta de hospícios bons que os engraçadinhos que foram meus alunos acham não devam existir e porque um italiano qualquer cujo nome não citarei] resolveu que não havia necessidade de cuidar de loucos. As famílias é que têm de arcar com os problemas da loucura. Para o câncer, há hospitais. Loucura? F#***! A MORAL É IMORAL, INDECENTE E DECRÉPITA.

4 comentários:

Julio Drummond Jr disse...

voce continua sendo uma pessoa incrivel, com um tempero bem especial e próprio ...algo assim como chocolate com pimenta !

Patricia Calhau disse...

Carmem, só voce mesmo!!!!

kkkkkk, engasgei de tanto rir....

Patricia Calhau disse...

Carmem, só voce mesmo!!!!

kkkkkk, engasgei de tanto rir....

Veronica disse...

Amo essas histórias , mas melhores são as de ônibus coletivo, me deste uma ideia
de uma "novela", ou a Novela da Reforma Agrária!kkkBeijos!