Estou em Muriqui, RJ, há mais ou
menos 40 anos. Tinha um barquinho. Um menino chega gritando a seu pai “papai,
tem uma moça passando mal na praia”. Papai diz que não pode atender. Eu digo
que sou médica e o menino me leva.
O menino fica petrificado e eu
pensativa. Ele vibra. “olha papai, a moça vai atender a “morta”. Feliz, me
levou até uma moça de uns vinte anos deitada, como diria Vinicius de Moraes em
seu poema Balada da Moça do Miramar: “... Nua, morta, deslumbrada / Uma moça
mira o mar”. Bonito né, quando se sabe pelo cheiro que é apenas um transe
histérico.
Tinha aprendido que uma tapona
tira a pessoa do transe, mas se eu fizesse isto, ia apanhar de muita gente.
Usando o estilo histérico mandei todo mundo, família, amigos, curiosos a sair
pois ela precisava respirar. Que nada, não queria que ouvissem o que eu diria
para tirá-la do “transe”.
Ajoelhei do lado direito dela,
cheguei perto do ouvido e disse baixinho “tu estás tendo uma crise, mas tua
família já chamou o camburão da polícia para te levar para o IML, lá vão te
cortar toda com o bisturi e aí acabar. “Vão te enterrar”.
A moça deu um pulo que eu não
sabia ser possível, de deitada passou a ficar ereta de pé, num segundo. Palmas
gerais. O menino vibrava e gritava “a moça ressuscitou a outra”. O pai não
gostou. A família se junta e diz o que eu fizera para ressuscitá-la. Eu disse
que isto era entre nós, dei-lhe um Valium 10 mg e sugeri que ela procurasse um
bom pai ou mãe de Santo, para se vestir de branco. Ficaria curada. “De que?”
“Dos transes. Tem que baixar o santo dela, toda a semana. “Mas como a Senhora
que é médica manda para o candomblé? “É porque os médicos da Terra levam 20
anos para curar isto, se é que conseguem. Candomblé cura logo”.
É verdade se não fossem os pais e
mães de santo capazes de ler o pensamento como um bom psicanalista deveria
fazer os psiquiatras não saberiam o que fazer com os histéricos. A não ser que
como quando cheguei de Porto Alegre para trabalhar no IPASE e na Biometria
Médica da Guanabara, chamassem os histéricos da Zona Sul de Epiléticos e os
médicos davam licença médica e os pobre da Zona Norte, eram histéricos mesmo e
tinham que trabalhar. O histérico é muito maltratado pela classe médica em
geral. Mas temos que lembrar que não fosse a relação de uma histérica com
Freud, não teríamos a Psicanálise.
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